terça-feira, 31 de agosto de 2010


"Tatá dança Simões"
vai à Escola Municipal de Ensino Fundamental
Dom Francisco de Campos Barreto
30.08.2010

"Tatá dança Simões"
vai à Escola Municipal de Ensino Fundamental
Dom Francisco de Campos Barreto
30.08.2010

"Tatá dança Simões"
vai à Escola Municipal de Ensino Fundamental
Dom Francisco de Campos Barreto
30.08.2010

"Tatá dança Simões"
vai à Escola Municipal de Ensino Fundamental
Dom Francisco de Campos Barreto

Tatá apresenta Simões Lopes Neto na escola municipal Dom Francisco de Campo Barreto


Pelotas, 30 de Agosto de 2010.

Os bailarinos-atores se colocam no palco para receberem as crianças que tão logo ocupariam o espaço, com suas presenças-espectadoras. A professora-coreógrafa-bailarina, Maria, enfatiza: “olhem para cada uma das crianças que irão entrar e mostrem que algo importante vai acontecer aqui hoje.”

Começa o espetáculo, em determinado momento há uma interrupção na seqüência das músicas (por falha técnica no som), os bailarinos- atores improvisam, recriam e preenchem o vazio inesperado. Os corpos em cena estão concentrados e disponíveis para cada ação, se tornam generosos com a proposta da coreógrafa, cada parte do corpo acontece como um gatilho a disparar, acionando diferentes sentidos.

Os olhos das crianças estão atentos, abrem-se para ver gestos novos, diferentes e talvez até estranhos. Dividem suas reações com quem está ao lado, se agrupam para aquele ritual, usufruindo desse encontro com a dança.

Após a apresentação, Maria pergunta às crianças: “Vocês têm idéia de como se monta uma peça assim?”

O processo de transformar a literatura de Simões Lopes Neto em Dança, surge de um método chamado View Points, assim constroem-se significados com o corpo a partir de várias perspectivas, variações de deslocamentos, de direções, de posições no espaço, de tempo de pausa, é um monte de possibilidades de utilizar o espaço.

Numa demonstração prática, os bailarinos-atores começam a “brincar” com a arquitetura do espaço, com o que o corpo pode fazer naquele ambiente, onde as ações corporais variam de acordo com o cruzamento que estabelecem em suas trajetórias, ainda em deslocamento vão provocando diferentes gestos, e um se apropria do gesto do outro. As crianças-espectadoras aplaudem a demonstração. Abre-se um espaço para as perguntas, começa todo um processo de interação entre bailarinos-atores, coreógrafa e o público. Eis que surgem os questionamentos:

1- Como vocês se sentem fazendo a peça?
2- Como vocês fazem para se concentrarem em cena?
3- Vocês gostam do que fazem?
4- Por que estão de pés descalço?
5- Como vocês gravam as falas?
6- Quantos anos é a faculdade de dança?
7- De quem é a trilha sonora?
8- Quanto tempo leva para montar o espetáculo?

Em alguns momentos da apresentação, foram notadas as risadas de algumas crianças e quando questionadas sobre o motivo dessa reação: Uma delas respondeu: “é porque é diferente, é estranho”. A coreógrafa Maria pergunta: “Mas o que é estranho?” E ela responde: “os gestos!”

Outra criança comentou sobre sua percepção de uma cena em que ela se deparou com uma “banda invisível”, é onde todos tocam uma gaita que existe somente na ação corporal, mas enquanto instrumento ela não existe.

Maria ainda comenta que a linguagem da dança está pouco presente na escola, esse encontro aponta para o sentido de introduzir essa linguagem no ambiente escolar, formar público-espectador e aprender com ele. “A dança só acontece em cena, na sua relação com o público. Por isso, a gente tem muito a aprender com vocês.”


Catia Fernandes de Carvalho
Coreógrafa- UFPel
Colaboradora do Núcleo de Dança-Teatro Tatá

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

O espetáculo em processo... (por Maria Falkembach)


Tatá apresenta Simões no 3º fórum de licenciaturas- UFPel

Após o espetáculo, o grupo Tatá faz uma demonstração do como está sendo montada a obra coreográfica. Assim, segue abaixo a fala da professora-bailarina-diretora e coreógrafa Maria Falkembach:

A gente está montando a obra de Simões, fazendo uma mixagem hoje com a lenda do boi tatá, algumas quadrinhas e negrinho do pastoreio. A partir de agosto a idéia é de levar o processo às escolas.

O porquê de apresentar o processo?

Alguns motivos...

1-A percepção do processo também é uma percepção estética. Assim, perceber o processo, compreender o processo faz parte da educação estética, que é uma das bases do curso de licenciatura em dança.

2-A dança e o teatro só acontecem de fato nesse momento. Então, a gente pode ficar lá 3 meses ensaiando numa sala e não ter a mínima noção do que significa o que a gente está fazendo. Os significados dos nossos movimentos, de tudo o que a gente constrói com o corpo, só acontece nessa relação com o público. Eu até posso construir vários significados enquanto se está ensaiando, mas o texto ele só se dá na relação com o público. A gente está lidando aqui com um tipo de percepção que é a sinestésica, a percepção do movimento, numa relação ao vivo com vocês. Para nós é muito importante estar experimentando isso em processo, o espetáculo só cresce em cena, e é assim que nós temos noção do que a gente está criando.

3-Mostrar para vocês o que é e como se dá o nosso processo, o que eu chamo de “descascar o espetáculo”. A gente trabalha um método de improvisação que é o Viewpoints (pontos de vista), criado por Anne Bogart. Vamos demonstrar alguns elementos importantes: posição do corpo no espaço; distância; mudança de direção, possibilidades de movimentos (todos levantam e começam as ações de deslocamento no espaço). Agora só podem fazer o gesto da Tauana! E assim todos se apropriam do gesto dela. A criação acontece também a partir da leitura do texto, no como meu corpo pode recriar a imagem poética que Simões criou. Outro aspecto importante é como a leitura do Simões permite outras leituras, outros devaneios. E também nos utilizamos das histórias pessoais de cada um conectadas à literatura de Simões.

Síntese de anotações em diário de campo de Catia Carvalho (Coreógrafa-UFPel)

Foi por aí que eu perdi...



Pelotas, 1º de julho de 2010

Perda da avó

Ajoelhada, com as mãos sobre as coxas, Gessi narra:“Minha avó era cozinheira, ela cozinhava para estudantes. Hoje todos são engenheiros. Lembro que ela tinha uma cama imensa, em que todos nós cabíamos nela. Fiquei pensando no que eu perdi, e que eu gostaria de encontrar de novo: a minha avó.”
A coreógrafa-diretora Maria, provoca: “Gessi, imagina que estás contando essa história para alguém, lembra da tua avó e entra nessa cama imensa.
Aos poucos as atrizes bailarinas: Taís, Alexandra, Ionara e Tuani vão se aproximando de Gessi, e deitando ao seu redor como se estivessem no aconchego da cama imensa da avó. Gessi faz gestos de acolhimento, toca em cada uma delas. A cena acontece como se a cama não tivesse limites para o afeto daquela vó.

Perda da liberdade sobre o lombo do cavalo

Já cantava o músico e compositor Pelotense, Vitor Ramil: “como é linda a liberdade sobre o lombo do cavalo...” (música: Deixando o Pago). É esse o espírito da cena desencadeada por Roberta. A perda da liberdade, do sair por aí nos campos com seu cavalo.

A liberdade perdida... e na sua fala, breves pausas pela perda das palavras quando quer expressar aquilo que sentia quando corria pelos campos imensos sem preocupação nenhuma. Como se as palavras não tivessem esse alcance da experiência, das sensações lembradas. As palavras lhes escapam... Nessa cena, as atrizes-bailarinas Elen, Tauana, e Denise entram fazendo sons de percussão corporal simulando o trotear dos cavalos, na seqüência surgem movimentos de “peito aberto”, movimentos amplos, movimentos de liberdade. Ao fundo o ator-bailarino Vagner, se põe com movimentos que fluem como se estivesse cavalgando, e nas mãos cordas num emaranhado que se transformam em ações de um laçador.


Os atores-bailarinos das diferentes cenas se misturam com as trajetórias que começam a serem traçadas no espaço. Do lugar onde estavam, saem em diferentes tempos e percorrem a sala. Nesse momento, Maria, coloca: “é importante o impulso na hora da saída. A saída tem que ser expressiva. Ela tem que expressar liberdade, e deve partir de um impulso.”



Fragmento literário: Negrinho do Pastoreio (João Simões Lopes Neto)

“O Negrinho anda sempre à procura dos objetos perdidos, pondo-os de jeito a serem achados pelos seus donos, quando estes acendem um coto de vela, cuja luz ele leva para o altar da Virgem Senhora Nossa, madrinha dos que não a têm. Quem perder suas prendas no campo, guarde esperança: junto de algum moirão ou sob os ramos das árvores, acenda uma vela para o Negrinho do pastoreio e vá lhe dizendo —Foi por aí que eu perdi... Foi por aí que eu perdi... Foi por ai que eu perdi! Se ele não achar… ninguém mais.”

Texto-fonte: Contos gauchescos e Lendas do Sul.
3ª ed. Porto Alegre: Globo, 1965.
Editoração eletrônica de Luiz Abel Silva


Catia Fernandes de Carvalho
Coreógrafa- UFPel
Colaboradora do Núcleo de Dança-Teatro Tatá

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Corpo-Corda-Judiaria


Pelotas, 28 de junho de 2010


Maldade, judiaria, crueldade...

Elementos demasiados humanos que encontramos no conto gauchesco do negrinho do pastoreio e que foram norteadores para a criação de movimentos na interação dos corpos dos atores-bailarinos com as cordas.

O exercício físico realizado nesse ensaio foi o de pular corda com intensidade, até o momento do “negrinho” ir para o chão como se estivesse levando uma surra. Nessa cena interpretada por Gugu, ele pula corda em ritmo acelerado até uma queda em posição ajoelhada. É então, que Vagner e Ellen começam a dar breves chicoteadas com a corda no solo em direção à Gugu.

Outro exercício realizado de criação de movimentos,foi um no qual a diretora e coreógrafa Maria batia palmas como estímulo para que os atores-bailarinos criassem uma posição ou ação, enrolando a corda pelas partes do corpo e realizando assim, uma forma estética. A partir dos movimentos que foram surgindo nessa relação corda-corpo, Maria lançava a pergunta: Qual a qualidade do movimento que eu vou usar? O que quero expressar com ele?

Catia Fernandes de Carvalho
Coreógrafa- UFPel
Colaboradora do Núcleo de Dança-Teatro Tatá