domingo, 2 de dezembro de 2012

Terra de Muitos...Chegares!


          Foram quase quatro anos de apresentações de Tatá Dança Simões, entre montagem, chegadas e saídas de atores –bailarinos,de professores colaboradores, pessoas que nos ajudaram a compor os figurinos, operador de luz...tanta gente! Parece que foi ontem no clube Caixeral a primeira apresentação...coração apertado, sala de espera lotada...Maria (a coreógrafa) com o barrigão(Gonçalo quase nascendo!). Quando alguém grita lá de fora: “Teu pai ligou, te desejando merda!”  O público entra, se acomoda. E a colega  Andressa Bitencourt, toda produzida diz: - “Senhoras e senhores, desliguem seus celulares e bom espetáculo!”Foi o pontapé inicial! Daí para frente nunca mais paramos de enlouquecer.

Reunião na Praça em Pinheiro Machado
Depois de passarmos por tantas escolas, teatros, salas, oficinas, estradas,ônibus apertados, reuniões, reuniões e mais reuniões, acordados , dormindo, quase dormindo,com febre, sem febre, rindo,com enjôo, sem enjôo, chorando,com raiva, sem raiva, doloridos, machucados... Tatá Dança Simões fez sua última apresentação desse ciclo que se encerrou na cidade de  Pinheiro Machado-RS no mês de  novembro de 2012! ( Apresentação desse espetáculo só em situações especiais). E além disso tudo com uma parcial despedida de dois dos nossos grandes colaboradores e colegas  Arthur e Francesco que irão trilhar outros caminhos.

     Para encerrar com chave de ouro e não poderia ser diferente, pois “ousadia” é a palavra que se encaixa para definir o grupo, após o almoço, uma longa reunião na praça, (Hora de discutir a relação. Pior que faz falta!) umas cochiladas, no confortável assoalho do palco do teatro, algumas brincadeiras, quando reparamos que havia um microfone a nossa disposição, Maria “construindo” o relatório final... fomos para segunda apresentação do dia ( naquela altura já era noite, 21 horas).
           Dessa vez a platéia nos surpreendeu (Não todos, é claro!). Após alguns instantes fomos percebendo  barulhos incômodos, vozes, sons do celular...que chegou no extremo de quando estava acontecendo uma das cenas mais fortes, a cena de violência contra mulher! As pessoas (Algumas! Poucas!) ovacionando esse momento, o que fez com que as colegas que estavam em cena, se emocionassem ! Falar de violência, de qualquer tipo, já é difícil...
Esses acontecimentos nos faz refletir sobre nosso papel. O  colega Allan falou que de alguma forma esses rapazes se sentiram incomodados, talvez se sentiram tão atingidos que a única forma que encontraram para se defender foi aquela. E, certamente, não esperavam encontrar esse tipo de linguagem em nosso espetáculo! Me coloco a imaginar quantos homens por aí pensam e agem como aqueles que estavam lá...
       Arte  como experiência sensível, mas também, como forma de reflexão!
Mas tem um momento que a vida pede outros assuntos, outras movimentações, outras leituras e releituras. Mas que não deixe nunca de falar de nós, que somos gente.
Como chegamos até aqui? Novo espetáculo, “Terra de Muitos Chegares”! Esse nome se deve, em parte, aos componentes do Tatá serem de várias partes do Brasil, mas também a algumas reflexões sobre as viagens de nossa coreógrafa. Na verdade, o mundo não é tão grande...pessoas são pessoas em qualquer parte dele.
        As pesquisas ainda estão no início, embora desde o começo deste ano começamos a pensar “coisas”. Música, textos, histórias, notícias, sonhos, vale tudo que fale de vida, nossas vidas. Só estamos onde estamos porque alguém, ou muitos alguéns, chegaram antes, e é a partir daí que a história começa.
Não preciso dizer que a palavra “criação” está diretamente, ligada a trabalho, e trabalho ligado
a ensaio, ensaio, ensaio.
         Nesse último ensaio, quando a coreógrafa pedia: “- Continuem fazendo o movimento, preciso de mais frases sobre pai, avós, bisavós,  para compor essa cena!” E ia anotando... O calor forte, a roupa colando... e eu pensando, frase que frase? As ideias vão surgindo, os pensamentos vão lá longe, algumas lembranças alegres outras nem tanto. Primeiro penso, depois não penso mais, as palavras vem, e a frase se forma.  “ Meu pai teve várias amantes!” A seguir de mim, a colega repete como se fosse um eco: “Meu pai teve várias amantes!” E mais um eco de  outra colega: “ Meu pai teve várias amantes!”  Pessoas  só mudam o endereço.
E assim as falas foram aparecendo, vidas foram colocadas no palco, a cena começa a ser delineada.
Bastidores no Teatro em Pinheiro Machado

Gessi Konzgen