Bom Retiro do Sul (RS) fica distante de
Pelotas (RS) 400km, nas margens do Rio Taquar. Segundo os moradores da cidade,
é o comecinho da Serra Gaúcha. Ao chegar,
tem-se a impressão de cenário de novela das 18h. A principal atividade
econômica são os ateliês de confecção de calçados e o turismo.
Fomos
recebidos pela professora da secretaria de educação, professora esta com
formação em dança pela UFRGS (RS), o que facilitou bastante o trabalho, por sua
compreensão de nossas necessidades e seu entendimento de dança semelhante ao
nosso (eu, Higor,Tatá).
As
professoras começaram a chegar...chegar... alunos do grupo de dança do
município (que susto, a sala encheu, 40 pessoas! FOTOS AQUI ). Falas iniciais concluídas,
pedimos que afastassem as cadeiras e o trabalho iniciou. Estranhamentos, sono,
risos, abraços de quem não havia se cumprimentado e o tempo de espera ou de
pausa para que todo aquele alvoroço se assentasse. A sala ficou pequena para
tanta energia contida naqueles corpos. Pensamos em dividir a oficina de acordo
com os arquétipos trabalhados no espetáculo Terra de Muitos Chegares, primeiro o índio, a conexão com a Terra, o negro com a história oral, cada um contando suas histórias, sua
genealogia, como chegamos até aqui e
assim a sala foi sendo ressignificada
por tantos chegares:
“Minha
vó veio para cá quando... e tenho um filho lindo!”
“Minha
mãe é alemã e meu pai descendente de africanos, e aí eu nasci e sou
linda!... ”
O
explorador português na atividade de
siga o mestre e o braço italiano, na
ideia de que se formos cumplices, somos fortes e o trabalho fica mais fácil. A comunicação foi acontecendo por outros
ângulos, pela própria história do Brasil.
A
pergunta, nas entrelinhas, que ronda todo professor independente de área de
atuação, quando se deparam com uma oficina de dança/arte/teatro/corpo é:
Onde está a fórmula mágica para que eu
transforme minha sala de aula? A partir
daí entra “o tal do sensível” que tanto se fala nos cursos de dança e de
teatro.
Na segunda parte da oficina, sendo que o
centro das discussões foi o professor como mediador artístico, os questionamentos periféricos foram o de como
preparar o aluno para ir ao teatro? Como se comportar para assistir um espetáculo
de dança, teatro, música? Como a escola recebe/percebe a arte?
Para
chegar às anteriores, não há como não passar pelo assunto educação/percepção do
sensível. Nesse ponto da história eu achei a resposta (pelo menos para mim)
sobre a pergunta que todo professor quer saber, a mágica para transformar suas
aulas.
O
lúdico é inerente ao ser humano, nascemos e morremos com ele. Ao longo dos anos
nos fazem acreditar que a experiência sensível não nos serve para nada, ou
melhor, não a reconhecem como tal e a escola em sua grande maioria é que nos
faz pensar assim. O corpo pensado como instrumento para algo, dividido em
partes mais ou menos importantes. A cabeça que pensa e concentra a razão, a mão
que aprende a escrever, a emoção que está no coração, os pés que carregam esse
corpo, como se nada acontecesse interligado. Como pensar o sensível num corpo
fragmentado? Se arte trabalha o lúdico, a subjetividade, os quais não são
visíveis aos olhos e sim percebidos por outras conexões e que cada corpo reage
a seu modo, como trabalhar na escola um assunto que não enxergamos, não
medimos, não sabemos que reações o outro tem como resposta? Portanto, se
desconhecemos, deixamos de lado, fingimos ou pensamos que não existe. Acredito
que a educação formal está completamente invertida, pois, parte da razão quando,
na verdade, deveria ser ao contrário. Dialogo com DUARTE (2001) quando diz que
o corpo tema recorrente quando se discute a questão do saber sensível, deverá
ser novamente abordado, tendo-se já ter discutido sua fragmentação pela ciência
moderna, agora a abordagem será igualmente a favor de sua integridade enquanto
ponto de partida para todos os saberes e conhecimentos de que dispõe o ser
humano.
Sob a ótica de que o corpo é templo da razão,
todo o resto é descartável. Para onde vai o que se descarta?
Voltando
a cidade de Bom Retiro, nas falas das professoras, onde nos diziam: Como
entender o espetáculo se caímos de paraquedas
no assunto? Acredito que a resposta não está no espetáculo, mas sim, no corpo!
Corpo? Sim, no corpo! Doido? Sim, muito! Se o professor não vivencia a
subjetividade do corpo que é, não trabalha a experiência sensível como vai
trabalhar com seus alunos? Somos dotados
de subjetividade e, se esta não é trabalhada, fica adormecida. Portanto, quanto mais vivências maior possibilidades de
criação e um professor criativo não necessita de fórmulas mágicas, pois estas não existem.
DUARTE.João Francisco.
O Sentido dos Sentidos a Educação(do) Sensível.Curitiba-PR.Criar
Edições,2001.
Gessi Konzgen