terça-feira, 25 de junho de 2013

TATA Oficina de Confecção de Sopapo com Dilermando Freitas

Como tudo no Tatá, a espontaneidade está no CO-MANDO, ou melhor, COm-DilerMANDO comungando  seu saber, fortalecendo o legado negro perpetuado pela dinastia griô que lhe cabe.
Gessi, a negra – é fundamental o subtítulo, já que seus muitos chegares a tornam multiFACEtada – questiona o famigerado costume colonialista da expropriação intelecto-imaterial que invisibiliza os detentores originais da cultura; a princípio, subjugada pelo dominador opressor que a explorará sob o pretexto do patrimônio comum: toda e qualquer manifestação pode ser ressignificada frente a fusão cultural, entretanto remanesce de algum lugar. Originando-se do lado oprimido, pouco provavelmente será contemplada sua participação. Questão relevante do processo de aculturação e alienação da comunidade negra no Brasil.
Porventura, o Sopapo é pelotense? Gaúcho? Ou brasileiro? Todas as afirmações estão corretas, contudo há de se ressaltar a negritude do mesmo. O próprio Brasil desconhece a africanidade da região sul e o faz pela ignorância que, gera preconceitos e reforça a discriminação:

“– AFIRMATIVAMENTE, o grande tambor brasileiro é preto; logo, afropelotense... afrogaúcho... afrobrasileiro... para ser mais CLARO!”
Foi com esse orgulho ufanista que recebemos o tamboreiro de nome exclusivo, citado lá nos primórdios do texto como um dos comandantes desta embarcação que nos levará à TERRA DE MUITOS CHEGARES. Dilermando faz ecoar pelos quatro cantos deste “Porto dos Milagres”; seja Pelotas, seja o Brasil; a voz do sopapo. Somos apenas um núcleo de dança-teatro, mas um recorte da nação. Aqui há brasileiros de todas as partes, sedentos por referências, insígnias, símbolos. Essa civilização tupiniquim começou a escrivinhar sua história e nossa contribuição é somática. Nossos corpos estão ávidos por deixar e encontrar registros. Querem desvelar os segredos ancestrais escondidos... em nós mesmos! Remontar o PASSADO PRESENTE no FUTURO comum!

O Sopapo representa um ícone do patrimônio imaterial. Chancela a história transmitida pela tradição oral. Reivindica com violência – este é um instrumento tocado na RAÇA – a produção do som e a manifestação da cor originária de sua Mãe. Admite que nossos contemporâneos pretos o evoquem como coisa da nossa gente, do nosso povo, da nossa crença, da nossa folia, mas... contribuição de uma matriz étnica específica. 


Higor Alencaragão

segunda-feira, 17 de junho de 2013

E na última segunda-feira, 10 de junho, começou mais uma semana de ensaios do grupo Tatá. Com a montagem do novo espetáculo Terra de Muitos Chegares em construção, o objetivo da semana é descobrir o que nos faz ser o que somos, o que nos constitui, o que nos define. Seja aquilo que nos já é de fato dado ou, seja aquilo que adquirimos com as relações que temos ao longo da vida. Entrar em sintonia um com o outro, ao entender seu olhar, seu movimento ou até mesmo “simplesmente” perceber o outro. Como isso se dá, como agrego valores e, como eu os levo comigo? Como isso influência no caminho que vou seguir e, consequentemente, no próximo passo que darei? Até que ponto eu consigo manter essa bagagem que não é minha? Aliás, eu consigo mantê-la? Até que ponto eu uso do outro para adquirir novas bagagens, novos caminhos? É possível manter a bagagem e quem nos fornece, ou sempre tenho que abdicar  um dos dois, é só uma questão de troca? Todos esses questionamentos impulsarão o grupo na construção desse que, mesmo antes de estar totalmente montado, já representa um pouquinho de cada um que está junto, trabalhando para que seja um belo espetáculo.


(O grupo em mais um momento de concentração)








Lizandra Oliveira Vilela