Como tudo no
Tatá, a espontaneidade está no CO-MANDO, ou melhor, COm-DilerMANDO
comungando seu saber, fortalecendo o
legado negro perpetuado pela dinastia griô que lhe cabe.
Gessi, a negra –
é fundamental o subtítulo, já que seus muitos chegares a tornam multiFACEtada –
questiona o famigerado costume colonialista da expropriação intelecto-imaterial
que invisibiliza os detentores originais da cultura; a princípio, subjugada
pelo dominador opressor que a explorará sob o pretexto do patrimônio comum:
toda e qualquer manifestação pode ser ressignificada frente a fusão cultural,
entretanto remanesce de algum lugar. Originando-se do lado oprimido, pouco
provavelmente será contemplada sua participação. Questão relevante do processo
de aculturação e alienação da comunidade negra no Brasil.
Porventura, o
Sopapo é pelotense? Gaúcho? Ou brasileiro? Todas as afirmações estão corretas,
contudo há de se ressaltar a negritude do mesmo. O próprio Brasil desconhece a
africanidade da região sul e o faz pela ignorância que, gera preconceitos e
reforça a discriminação:
“– AFIRMATIVAMENTE,
o grande tambor brasileiro é preto; logo, afropelotense... afrogaúcho...
afrobrasileiro... para ser mais CLARO!”
Foi com esse
orgulho ufanista que recebemos o tamboreiro de nome exclusivo, citado lá nos
primórdios do texto como um dos comandantes desta embarcação que nos levará à
TERRA DE MUITOS CHEGARES. Dilermando faz ecoar pelos quatro cantos deste “Porto
dos Milagres”; seja Pelotas, seja o Brasil; a voz do sopapo. Somos apenas um
núcleo de dança-teatro, mas um recorte da nação. Aqui há brasileiros de todas
as partes, sedentos por referências, insígnias, símbolos. Essa civilização
tupiniquim começou a escrivinhar sua história e nossa contribuição é somática.
Nossos corpos estão ávidos por deixar e encontrar registros. Querem desvelar os
segredos ancestrais escondidos... em nós mesmos! Remontar o PASSADO PRESENTE no
FUTURO comum!
O Sopapo
representa um ícone do patrimônio imaterial. Chancela a história transmitida
pela tradição oral. Reivindica com violência – este é um instrumento tocado na
RAÇA – a produção do som e a manifestação da cor originária de sua Mãe. Admite
que nossos contemporâneos pretos o evoquem como coisa da nossa gente, do nosso
povo, da nossa crença, da nossa folia, mas... contribuição de uma matriz étnica
específica.
Higor
Alencaragão