sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Carta de um ator-dançarino


Pelotas, 20 de Setembro de 2012.

Dias 17 e 18 de Setembro, o Tatá – Núcleo de Dança-Teatro, projeto de extensão do curso de Dança-Licenciatura da UFPel, da qual eu faço parte, participou do 2º FENUDI – Festival Nacional Universitário de Dança em Itajaí/SC , realizado pela Univali.
Recentemente estamos em processo de criação do novo espetáculo, “Terra de muitos chegares”, onde se partiu de uma investigação dos nossos antecessores, os imigrantes que aqui chegaram. Assim cada interprete criador trouxe suas histórias relatando o que havia lhes constituídos até então. A partir desse material, mais algumas trilhas e bibliografias pesquisadas por nossa coordenadora, criamos uma cena experimental de aproximadamente 15 minutos e realizamos uma mostra da mesma nesse festival.
Antes mesmo de apresentarmos, ao observar a todos os outros grupos que ali estavam presentes, já pude perceber uma certa atenção dos mesmos para figurinos grandiosos e uniformizados, maquiagens, e entre outras coisas que foram incrementando todas as obras. Quando se iniciou as mostras, eu vi em todas as apresentações, aquela dança virtuosa, composta por uma unidade de corpos, passos e movimentos, ao som de uma música, muitas vezes comercial. O que de fato difere totalmente do nosso trabalho desenvolvido, então eu e meus colegas percebemos que estaríamos em uma situação delicada, pois  estávamos propondo algo que seria fora do que acontecia ali. E foi dito e feito, quando em cena, sentimos o estranhamento e a zombaria em relação ao nosso trabalho.
A “Dança-Teatro” é uma linguagem nova, onde através de outros experimentos com expectadores pudemos constatar isso. Eu particularmente, não me vejo dançando sem que haja uma intenção em cada movimento proposto, onde existe uma verdade dentro de mim que eu a coloco para fora, resultando em dança. E que se é real para mim, de alguma forma vai tocar o público da maneira que ele se fizer entender, sem ter um consentimento certo ou errado do que se transmite, pois nada é acabado, e sim um fluxo contínuo.
Eu acredito muito no trabalho que realizo junto ao meu grupo, e isso me dá forças para me expor diante de qualquer plateia e situação, através desse tipo de dança, “o porque” e “o que” realmente me move. Não consigo muitas vezes assistir uma coisa que fora dos palcos é surrealista, pois na sociedade(mundo) em que vivemos, não existe uma unidade de pessoas.
Não queremos cidadãos que apenas reproduzam, mas sim, que digiram as informações e as usufruam da melhor maneira, para que possivelmente, lembrem-se que acima de qualquer valor, são seres humanos.



Arthur Malaspina Junior

Nenhum comentário:

Postar um comentário