"Inservíveis" é o título do trabalho mais recente do grupo Tatá. Enquanto os demais trabalhos contam principalmente com elenco de egressos/as do curso de Dança, "Inservíveis" surge junto ao fluxo das aulas do Tatá, e acontece com a maior parte de bailarinos/as estudantes.
A diretora Maria Falkembach traz como estopim uma reflexão anti-capitalista de chinelo na praia, a partir dos bens patrimoniais de instituições, que ao fim da vida útil passam por protocolos para o devido descarte. Essa reflexão se desdobra em metáforas sobre a inutilidade em geral, e da improdutividade como condição socialmente condenada.
Roda de chimarrão que, no gesto, remonta ao fundamento indígena da cultura sul-riograndense e ao reencontro pós-pandemia, quando o contato corporal volta a ser possível. Descanso vigilante na conversa de vizinhas às tardes. Ailton Krenak desarmando Carla Zambelli com a palavra. A vida útil média das mulheres para a sociedade patriarcal. Quantas variações de movimento são possíveis com uma cadeira de praia, ou em contato com outro corpo.
Capoeira gingando com samba, sambando com ioga. As lacunas das políticas afirmativas dentro na universidade, a relação entre família e memória, entre bebê e ensaio, entre interdito e carnaval. Questões que se acumulam como bens institucionais amontoados em um canto para lhes reinventarem o desuso.
Montar um espetáculo. Desmontar um espetáculo. Levá-o a passear na rua, tornado um conjunto de ações inúteis que, no fim das contas, são o que realmente importa - olhar pro horizonte, respirar, conversar, dedicar-se a si, lagartear, dançar.
O trabalho seguiu buscando forma e segue inacabado, mas desde setembro de 2024, encontra-se no estado de "ação performática", o que brota da necessidade de ser apresentado na rua - mais gesto que dança, familiar e inesperado, meditativo e sambado - formato que permanece como um interesse atual do grupo.
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