Tive 6 alunas e o
Flávio para lecionar comigo. Voltei de casa. De certa forma estou em casa.
Voltei para ser a parte ou a metade da Letícia que precisa crescer. E crescer
dói. Crescer dói e parece que nós só crescemos e enfrentamos o mundo, quebramos
barreiras de fato, se estamos sozinhos. Sozinha as emoções se afloram e o nada
vira tudo e o banal é importante e o superficial se torna profundo. É estranho.
Chega a ter uma ponta de cômico, sim, porque depois de passado o conflito, nós
parecemos infantis.
Mas na oficina eu
não estava sozinha, tinha o Flávio. E é engraçado, porque algumas pessoas (como
ele) nos passam a confiança no trabalho. A confiança de que o que você está
fazendo faz sentido, a confiança de que o trabalho ao todo faz sentido e é
importante. E o Higor também fez isso,
em Bagé, quando disse “Se segura na gente. Nós somos a tua família e vamos te
segurar”. E isso parece banal, mas é importante. Porque aí nós percebemos que
há confiança. Não há como negar, eu deixei o grupo por dois meses e o trabalho
precisava continuar. E eu voltei e o meu lugar estava aqui. Reservado, parece
até que me esperando. Estou no meu lugar de fato. No lugar que tenho que estar,
passando o que tenho que passar, vivendo o momento que é infinito e perfeito
enquanto existe, e nós não sabemos por que é assim, e talvez nunca saibamos,
apenas sentiremos. E sentir é incrível.
Senti hoje que
estou no meu lugar, realmente, porque faço o que gosto. Danço o que gosto, dou
aula (que gosto muito), crio o que gosto. Crio conflitos que não gosto, é
verdade, mas que depois me oferecem conhecimento sobre mim e sobre os outros
que me permitem olhar para o mundo de outra forma. Em Pinheiro Machado foi assim. Todo o período
da oficina eu estava anestesiada. Em estado de adoração. Ouvir as professoras
discutir sobre dança, fazer uma colocação aqui outra ali, e de repente ver que
elas concordavam e achavam soluções para os problemas foi surpreendente.
Esses momentos de
surpresa, de êxtase é que definem a carreira que queremos seguir. Se
surpreender com o próprio trabalho causa em mim uma relação com o que fui
quando criança, não sei por que, mas é um estado de criatividade e de olhar o
mundo com muito mais inocência. E ser inocente é muito mais do ser infantil,
mas é sentir o mundo e aquilo que ele oferece com outros olhos; com um olhar
para o lado bom. Talvez até o lado bom de uma tristeza, como a de deixar uma
parte de ti para vir ser outra parte que precisa ser explorada, e descobrir que
essa tristeza não é absoluta, nunca, afinal.
Letícia Lupinacci
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