Foram quase quatro anos de apresentações de Tatá Dança
Simões, entre montagem, chegadas e saídas de atores –bailarinos,de professores
colaboradores, pessoas que nos ajudaram a compor os figurinos, operador de
luz...tanta gente! Parece que foi ontem no clube Caixeral a primeira
apresentação...coração apertado, sala de espera lotada...Maria (a coreógrafa)
com o barrigão(Gonçalo quase nascendo!). Quando alguém grita lá de fora: “Teu
pai ligou, te desejando merda!” O público
entra, se acomoda. E a colega Andressa
Bitencourt, toda produzida diz: - “Senhoras e senhores, desliguem seus
celulares e bom espetáculo!”Foi o pontapé inicial! Daí para frente nunca mais
paramos de enlouquecer.
Reunião na Praça em Pinheiro Machado |
Depois de passarmos por tantas
escolas, teatros, salas, oficinas, estradas,ônibus apertados, reuniões,
reuniões e mais reuniões, acordados , dormindo, quase dormindo,com febre, sem
febre, rindo,com enjôo, sem enjôo, chorando,com raiva, sem raiva, doloridos,
machucados... Tatá Dança Simões fez sua última apresentação desse ciclo que se
encerrou na cidade de Pinheiro Machado-RS
no mês de novembro de 2012! (
Apresentação desse espetáculo só em situações especiais). E além disso tudo com
uma parcial despedida de dois dos nossos grandes colaboradores e colegas Arthur e Francesco que irão trilhar outros
caminhos.
Para encerrar com chave de ouro e não
poderia ser diferente, pois “ousadia” é a palavra que se encaixa para definir o
grupo, após o almoço, uma longa reunião na praça, (Hora de discutir a relação.
Pior que faz falta!) umas cochiladas, no confortável assoalho do palco do
teatro, algumas brincadeiras, quando reparamos que havia um microfone a nossa
disposição, Maria “construindo” o relatório final... fomos para segunda
apresentação do dia ( naquela altura já era noite, 21 horas).
Dessa vez
a platéia nos surpreendeu (Não todos, é claro!). Após alguns instantes fomos
percebendo barulhos incômodos, vozes, sons
do celular...que chegou no extremo de quando estava acontecendo uma das cenas
mais fortes, a cena de violência contra mulher! As pessoas (Algumas! Poucas!)
ovacionando esse momento, o que fez com que as colegas que estavam em cena, se
emocionassem ! Falar de violência, de qualquer tipo, já é difícil...
Esses acontecimentos nos faz
refletir sobre nosso papel. O colega
Allan falou que de alguma forma esses rapazes se sentiram incomodados, talvez
se sentiram tão atingidos que a única forma que encontraram para se defender
foi aquela. E, certamente, não esperavam encontrar esse tipo de linguagem em
nosso espetáculo! Me coloco a imaginar quantos homens por aí pensam e agem como
aqueles que estavam lá...
Arte como experiência sensível, mas também, como
forma de reflexão!
Mas tem um momento que a vida pede outros assuntos,
outras movimentações, outras leituras e releituras. Mas que não deixe nunca de
falar de nós, que somos gente.
Como chegamos até aqui? Novo espetáculo, “Terra de Muitos
Chegares”! Esse nome se deve, em parte, aos componentes do Tatá serem de várias
partes do Brasil, mas também a algumas reflexões sobre as viagens de nossa
coreógrafa. Na verdade, o mundo não é tão grande...pessoas são pessoas em qualquer
parte dele.
As pesquisas ainda estão no início,
embora desde o começo deste ano começamos a pensar “coisas”. Música, textos,
histórias, notícias, sonhos, vale tudo que fale de vida, nossas vidas. Só
estamos onde estamos porque alguém, ou muitos alguéns, chegaram antes, e é a
partir daí que a história começa.
Não preciso dizer que a palavra “criação” está
diretamente, ligada a trabalho, e trabalho ligado
a ensaio, ensaio, ensaio.
Nesse último ensaio, quando a coreógrafa pedia: “-
Continuem fazendo o movimento, preciso de mais frases sobre pai, avós,
bisavós, para compor essa cena!” E ia
anotando... O calor forte, a roupa colando... e eu pensando, frase que frase?
As ideias vão surgindo, os pensamentos vão lá longe, algumas lembranças alegres
outras nem tanto. Primeiro penso, depois não penso mais, as palavras vem, e a
frase se forma. “ Meu pai teve várias
amantes!” A seguir de mim, a colega repete como se fosse um eco: “Meu pai teve
várias amantes!” E mais um eco de outra
colega: “ Meu pai teve várias amantes!”
Pessoas só mudam o endereço.
E assim as falas foram aparecendo, vidas foram colocadas no palco, a cena começa a ser delineada.
Bastidores no Teatro em Pinheiro Machado |
Gessi Konzgen