segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

"Tatá dança Simões"
público espectador no Instituo de Educação Assis Brasil
22.09.2010
"Tatá dança Simões"
vai ao Instituto de Educação Assis Brasil
22.09.2010

Andanças do Tatá...

Andanças do Tatá em 2010

Ação: “Tatá dança Simões vai à escola”

No ano de 2010, o núcleo de dança-teatro Tatá deu seqüência à montagem coreográfica através de criação coletiva com leituras e transcriação da obra de Simões Lopes Neto. Desta vez, o grupo optou por ampliar seus objetivos de trabalho, evidenciando seu caráter pedagógico e propondo um contato maior e mais dialógico com o público através da Mostra de Processo.O projeto direcionou o público alvo das apresentações para alunos e professores das escolas públicas da cidade de Pelotas e assim pode começar a desenvolver sua ação de Educação Estética para as crianças e adolescentes e professores atingidos pela obra.

As apresentações do Tatá Núcleo de Dança-Teatro constituiram-se de dois momentos:

1. Apresentação da obra “TATA DANÇA SIMÕES”;
2. Mostra de Processo.

O segundo momento inicia-se com um espaço de troca com o público, no qual os atores-dançarinos explicam à platéia como chegaram ao “produto final”, demonstrando alguns princípios das técnicas que utilizam para a composição do espetáculo apresentado naquele momento. Mostram como se apropriaram dos textos, alguns movimentos que foram selecionados e os motivos de suas escolhas.Após esta primeira explanação o grupo recebe dúvidas e comentários dos presentes e inicia um diálogo. Em algumas edições, nas quais os integrantes do Núcleo perceberam o envolvimento ativo do público, os espectadores foram convidados a experienciar técnicas expostas e improvisar com os atores-dançarinos.Foram momentos ricos de experiências importantes, a partir das quais pode-se constatar que o projeto tem conseguido atingir seus objetivos relacionados à educação estética, à formação de público e à difusão da linguagem da dança nas escolas.


CRONOGRAMA “TATÁ DANÇA SIMÕES” VAI À ESCOLA


30.08.2010
Escola Municipal de Ensino Fundamental Dom Francisco de Campos Barreto
Público: Aproximadamente 280 crianças, professores e direção.
Local:No auditório da própria escola, localizada no bairro Laranjal.

22.09.2010
Instituto de Educação Assis Brasil
Público:Aproximadamente 300 pessoas, entre estudantes, professores e funcionários.
Local:No auditório da própria escola, localizada no centro da cidade.

29.09.2010
Escola Estadual Dr. Francisco Simões
Público:Aproximadamente 150 estudantes e professores.
Local:No Teatro do COP, localizado no centro da cidade.

06.10.2010
Escola Municipal Machado de Assis
Público:Aproximadamente 35 alunos, 2 professoras, coordenadora e diretora.
Local:No auditório da Escola Imaculada Conceição, localizada no bairro Três Vendas.

06.10.2010
Escola de Ensino Médio Imaculada Conceição
Público:Aproximadamente 20 alunos e professores.
local:No auditório da própria escola, localizada no bairro Três Vendas.

25.10.2010
Escola Municipal de Ensino Fundamental Joaquim Assumpção.
Público:Aproximadamente 20 alunos das séries finais do ensino fundamental e 2 professoras.
Local:No Teatro do COP, localizado no centro da cidade.

27.10.2010
Escola Municipal Márcio Dias.
Público:Aproximadamente 30 alunos todos de séries iniciais, mais professores e direção.
Local:No terreno da Escola, situada na localidade Posto Branco- Zona Rural.

17 e 24 de novembro de 2010
Escola Estadual de Ensino Médio Dom João Braga.
Público:Aproximadamente 175 estudantes, mais professores da escola e acadêmicos do PIBID.
Local:No Teatro do COP, localizado no centro da cidade

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Cartaz da estréia: Tatá dança Simões



Esse foi o convite do primeiro trabalho (em processo) do Tatá.Tratou-se da estréia da montagem baseada na obra do escritor pelotense: Simões Lopes Neto.

Titulada: "Tatá dança Simões"
Datada: em 31 de Julho de 2009

Depoimento a partir da apresentação do TATÁ

Apresentação...

Sabe, fiquei muito tempo pensando no que falar, eu não queria fazer uma coisa assim: ''foi bonito,gostei, achei legal'' e quero que saibam que foi tudo isso, mas essas palavras não bastam.Fiz uma lista de coisas que eu percebi e gostei muito.


as cordas: nossa! Quem teve essa ideia???Foi genial!
gaita: o movimento foi muuito legal! pareciam bonecos de corda!
liberdade de expressão: vi que os alunos podiam interagir, acrescentando sua história ou coisas que acham interessantes na coreografia, demais!
decida do palco: amei essa parte, foi muuito interativo com o púlico.
andando a cavalo: genial bater no peito e andar com os braços abertos pra representar uma cavalgada!
correndo apressadamente (não sabia como escrever esse movimento):voces corriam e faziam sinal como se estivecem atrasados com a mão, pra mim deu a impressão de que ia chegar alguém poderoso e malvado.
mão nos olhos: foi por que o boitatá só comia os olhos, né?

Pergunta: Porque utilizar as lendas do João Simões Lopes Neto?E porque o nome Tatá?

Eu me senti lendo as duas obras, vendo vocês dançando e representando, foi realmente muito legal, estou sem palavras!


Obrigada por ouvir a minha opinião, beijos,

Sophia (10 anos)

terça-feira, 31 de agosto de 2010


"Tatá dança Simões"
vai à Escola Municipal de Ensino Fundamental
Dom Francisco de Campos Barreto
30.08.2010

"Tatá dança Simões"
vai à Escola Municipal de Ensino Fundamental
Dom Francisco de Campos Barreto
30.08.2010

"Tatá dança Simões"
vai à Escola Municipal de Ensino Fundamental
Dom Francisco de Campos Barreto
30.08.2010

"Tatá dança Simões"
vai à Escola Municipal de Ensino Fundamental
Dom Francisco de Campos Barreto

Tatá apresenta Simões Lopes Neto na escola municipal Dom Francisco de Campo Barreto


Pelotas, 30 de Agosto de 2010.

Os bailarinos-atores se colocam no palco para receberem as crianças que tão logo ocupariam o espaço, com suas presenças-espectadoras. A professora-coreógrafa-bailarina, Maria, enfatiza: “olhem para cada uma das crianças que irão entrar e mostrem que algo importante vai acontecer aqui hoje.”

Começa o espetáculo, em determinado momento há uma interrupção na seqüência das músicas (por falha técnica no som), os bailarinos- atores improvisam, recriam e preenchem o vazio inesperado. Os corpos em cena estão concentrados e disponíveis para cada ação, se tornam generosos com a proposta da coreógrafa, cada parte do corpo acontece como um gatilho a disparar, acionando diferentes sentidos.

Os olhos das crianças estão atentos, abrem-se para ver gestos novos, diferentes e talvez até estranhos. Dividem suas reações com quem está ao lado, se agrupam para aquele ritual, usufruindo desse encontro com a dança.

Após a apresentação, Maria pergunta às crianças: “Vocês têm idéia de como se monta uma peça assim?”

O processo de transformar a literatura de Simões Lopes Neto em Dança, surge de um método chamado View Points, assim constroem-se significados com o corpo a partir de várias perspectivas, variações de deslocamentos, de direções, de posições no espaço, de tempo de pausa, é um monte de possibilidades de utilizar o espaço.

Numa demonstração prática, os bailarinos-atores começam a “brincar” com a arquitetura do espaço, com o que o corpo pode fazer naquele ambiente, onde as ações corporais variam de acordo com o cruzamento que estabelecem em suas trajetórias, ainda em deslocamento vão provocando diferentes gestos, e um se apropria do gesto do outro. As crianças-espectadoras aplaudem a demonstração. Abre-se um espaço para as perguntas, começa todo um processo de interação entre bailarinos-atores, coreógrafa e o público. Eis que surgem os questionamentos:

1- Como vocês se sentem fazendo a peça?
2- Como vocês fazem para se concentrarem em cena?
3- Vocês gostam do que fazem?
4- Por que estão de pés descalço?
5- Como vocês gravam as falas?
6- Quantos anos é a faculdade de dança?
7- De quem é a trilha sonora?
8- Quanto tempo leva para montar o espetáculo?

Em alguns momentos da apresentação, foram notadas as risadas de algumas crianças e quando questionadas sobre o motivo dessa reação: Uma delas respondeu: “é porque é diferente, é estranho”. A coreógrafa Maria pergunta: “Mas o que é estranho?” E ela responde: “os gestos!”

Outra criança comentou sobre sua percepção de uma cena em que ela se deparou com uma “banda invisível”, é onde todos tocam uma gaita que existe somente na ação corporal, mas enquanto instrumento ela não existe.

Maria ainda comenta que a linguagem da dança está pouco presente na escola, esse encontro aponta para o sentido de introduzir essa linguagem no ambiente escolar, formar público-espectador e aprender com ele. “A dança só acontece em cena, na sua relação com o público. Por isso, a gente tem muito a aprender com vocês.”


Catia Fernandes de Carvalho
Coreógrafa- UFPel
Colaboradora do Núcleo de Dança-Teatro Tatá

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

O espetáculo em processo... (por Maria Falkembach)


Tatá apresenta Simões no 3º fórum de licenciaturas- UFPel

Após o espetáculo, o grupo Tatá faz uma demonstração do como está sendo montada a obra coreográfica. Assim, segue abaixo a fala da professora-bailarina-diretora e coreógrafa Maria Falkembach:

A gente está montando a obra de Simões, fazendo uma mixagem hoje com a lenda do boi tatá, algumas quadrinhas e negrinho do pastoreio. A partir de agosto a idéia é de levar o processo às escolas.

O porquê de apresentar o processo?

Alguns motivos...

1-A percepção do processo também é uma percepção estética. Assim, perceber o processo, compreender o processo faz parte da educação estética, que é uma das bases do curso de licenciatura em dança.

2-A dança e o teatro só acontecem de fato nesse momento. Então, a gente pode ficar lá 3 meses ensaiando numa sala e não ter a mínima noção do que significa o que a gente está fazendo. Os significados dos nossos movimentos, de tudo o que a gente constrói com o corpo, só acontece nessa relação com o público. Eu até posso construir vários significados enquanto se está ensaiando, mas o texto ele só se dá na relação com o público. A gente está lidando aqui com um tipo de percepção que é a sinestésica, a percepção do movimento, numa relação ao vivo com vocês. Para nós é muito importante estar experimentando isso em processo, o espetáculo só cresce em cena, e é assim que nós temos noção do que a gente está criando.

3-Mostrar para vocês o que é e como se dá o nosso processo, o que eu chamo de “descascar o espetáculo”. A gente trabalha um método de improvisação que é o Viewpoints (pontos de vista), criado por Anne Bogart. Vamos demonstrar alguns elementos importantes: posição do corpo no espaço; distância; mudança de direção, possibilidades de movimentos (todos levantam e começam as ações de deslocamento no espaço). Agora só podem fazer o gesto da Tauana! E assim todos se apropriam do gesto dela. A criação acontece também a partir da leitura do texto, no como meu corpo pode recriar a imagem poética que Simões criou. Outro aspecto importante é como a leitura do Simões permite outras leituras, outros devaneios. E também nos utilizamos das histórias pessoais de cada um conectadas à literatura de Simões.

Síntese de anotações em diário de campo de Catia Carvalho (Coreógrafa-UFPel)

Foi por aí que eu perdi...



Pelotas, 1º de julho de 2010

Perda da avó

Ajoelhada, com as mãos sobre as coxas, Gessi narra:“Minha avó era cozinheira, ela cozinhava para estudantes. Hoje todos são engenheiros. Lembro que ela tinha uma cama imensa, em que todos nós cabíamos nela. Fiquei pensando no que eu perdi, e que eu gostaria de encontrar de novo: a minha avó.”
A coreógrafa-diretora Maria, provoca: “Gessi, imagina que estás contando essa história para alguém, lembra da tua avó e entra nessa cama imensa.
Aos poucos as atrizes bailarinas: Taís, Alexandra, Ionara e Tuani vão se aproximando de Gessi, e deitando ao seu redor como se estivessem no aconchego da cama imensa da avó. Gessi faz gestos de acolhimento, toca em cada uma delas. A cena acontece como se a cama não tivesse limites para o afeto daquela vó.

Perda da liberdade sobre o lombo do cavalo

Já cantava o músico e compositor Pelotense, Vitor Ramil: “como é linda a liberdade sobre o lombo do cavalo...” (música: Deixando o Pago). É esse o espírito da cena desencadeada por Roberta. A perda da liberdade, do sair por aí nos campos com seu cavalo.

A liberdade perdida... e na sua fala, breves pausas pela perda das palavras quando quer expressar aquilo que sentia quando corria pelos campos imensos sem preocupação nenhuma. Como se as palavras não tivessem esse alcance da experiência, das sensações lembradas. As palavras lhes escapam... Nessa cena, as atrizes-bailarinas Elen, Tauana, e Denise entram fazendo sons de percussão corporal simulando o trotear dos cavalos, na seqüência surgem movimentos de “peito aberto”, movimentos amplos, movimentos de liberdade. Ao fundo o ator-bailarino Vagner, se põe com movimentos que fluem como se estivesse cavalgando, e nas mãos cordas num emaranhado que se transformam em ações de um laçador.


Os atores-bailarinos das diferentes cenas se misturam com as trajetórias que começam a serem traçadas no espaço. Do lugar onde estavam, saem em diferentes tempos e percorrem a sala. Nesse momento, Maria, coloca: “é importante o impulso na hora da saída. A saída tem que ser expressiva. Ela tem que expressar liberdade, e deve partir de um impulso.”



Fragmento literário: Negrinho do Pastoreio (João Simões Lopes Neto)

“O Negrinho anda sempre à procura dos objetos perdidos, pondo-os de jeito a serem achados pelos seus donos, quando estes acendem um coto de vela, cuja luz ele leva para o altar da Virgem Senhora Nossa, madrinha dos que não a têm. Quem perder suas prendas no campo, guarde esperança: junto de algum moirão ou sob os ramos das árvores, acenda uma vela para o Negrinho do pastoreio e vá lhe dizendo —Foi por aí que eu perdi... Foi por aí que eu perdi... Foi por ai que eu perdi! Se ele não achar… ninguém mais.”

Texto-fonte: Contos gauchescos e Lendas do Sul.
3ª ed. Porto Alegre: Globo, 1965.
Editoração eletrônica de Luiz Abel Silva


Catia Fernandes de Carvalho
Coreógrafa- UFPel
Colaboradora do Núcleo de Dança-Teatro Tatá

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Corpo-Corda-Judiaria


Pelotas, 28 de junho de 2010


Maldade, judiaria, crueldade...

Elementos demasiados humanos que encontramos no conto gauchesco do negrinho do pastoreio e que foram norteadores para a criação de movimentos na interação dos corpos dos atores-bailarinos com as cordas.

O exercício físico realizado nesse ensaio foi o de pular corda com intensidade, até o momento do “negrinho” ir para o chão como se estivesse levando uma surra. Nessa cena interpretada por Gugu, ele pula corda em ritmo acelerado até uma queda em posição ajoelhada. É então, que Vagner e Ellen começam a dar breves chicoteadas com a corda no solo em direção à Gugu.

Outro exercício realizado de criação de movimentos,foi um no qual a diretora e coreógrafa Maria batia palmas como estímulo para que os atores-bailarinos criassem uma posição ou ação, enrolando a corda pelas partes do corpo e realizando assim, uma forma estética. A partir dos movimentos que foram surgindo nessa relação corda-corpo, Maria lançava a pergunta: Qual a qualidade do movimento que eu vou usar? O que quero expressar com ele?

Catia Fernandes de Carvalho
Coreógrafa- UFPel
Colaboradora do Núcleo de Dança-Teatro Tatá

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Impressões...

Falarei sobre minhas impressões neste dia de experimentações.

Mesmo com dores na coluna, após um torcicolo de uma noite mal dormida, encarei o ensaio normalmente. Após a Maria ter nos sugerido a experimentação dos movimentos de gaiteiro, no rítmo da música, construídos a partir de nossos referenciais corpóreos, comecei a pensar em como transformar esta gaita imaginária no meu corpo todo.

Neste sentido, o fato de estarmos usando os chapéus, nos dava um aspecto de máscara neutra que possibilitava buscar a expressão daquelas ações com o corpo inteiro.

Ao experimentar os movimentos, compreendi fisicamente aos poucos como será esse processo de desenvolvimento deste arlequim gaudério que a Maria está nos propondo.

Pouco a pouco a gaita ia criando uma textura, um peso, uma cor e o contato dela fazia com que eu percebesse meu corpo como um todo orgânico, não fragmentado, mas todo em movimento, vivo, pulsante. Apesar de estarmos recém no ínício do trabalho, já percebo uma ótima oportunidade para mergulharmos nas possibilidades físicas que nossos corpos nos oferecem, no intuito de criar algo passível de sensibilizar de alguma forma a quem assista.

Vagner Vargas

Vivências marcadas nos corpos...



Pelotas, 14 de junho de 2010

Mais um ensaio do Tatá...

Vivências marcadas no corpo...

Memórias corporais que dançam...

A partir da experiência de uma das atrizes-bailarinas, a Denise, o grupo tem experimentado a dança “chula”... Hoje ao som de uma música gaúcha, os atores-bailarinos vivenciavam os sapateios dessa dança. As batidas marcadas pelos pés procuravam atingir as batidas ritmadas da música. Apropriações minuciosas do corpo, uma relação de movimento-tempo com muita sonoridade, sons provocados pelo corpo... Ou melhor, uma percussão corporal na estética da cultura gaúcha.

Após essas experimentações, a coreógrafa Maria, distribui chapéus a todos fazendo referência ao chapéu do "Borguetinho", assim todos ajustam o acessório nas suas cabeças e observam uns aos outros. Logo a coreógrafa diz: "Vamos imaginar que nós temos uma gaita, e façamos nela movimentos curtos e amplos..."

Vão todos para o fundo da sala e preparam seus corpos para a ação provocada pela fala de Maria, coloca-se uma música marcada pelo som da gaita, e assim, os movimentos são improvisados de maneiras muito singulares.

A coreógrafa intervém: "entrem na música com a gaita"... Logo após acrescenta: "quanto mais trabalharem a oposição melhor!"

Os corpos dos atores-bailarinos se colocam em cena com mais intensidade, transformações de ritmo, postura, esforços... Acontece aí a fusão da gaita com o corpo, o instrumento imaginado passa a ser uma extensão do corpo.

Um corpo de ação, com inesgotáveis movimentos que surgem do som que afeta cada músculo. Sobressaem-se as oposições do movimento de abrir x fechar, de tensionamento e relaxamento. E quando esse esforço parece se atenuar, Maria reforça: "Se vocês esquecerem que estão com a gaita, perde toda a dramacidade..." Vamos novamente... Mais um exercício e na repetição da cena, a possibilidade de fazer algo diferente do que se fez antes. Maria lembra a todos: "O movimento tem que partir dos braços"...

Na construção da dramaturgia do corpo, a diretora e coreógrafa coloca: ”cada corpo será um personagem...Cada corpo aqui contará uma história...” Assim agrega a esses personagens as quadrinhas (ditos populares), as quais foram criadas em outros encontros do grupo. Maria pede para fazeram as quadrinhas no contexto de seus personagens, interagindo com a gaita. Todos fazem esse exercício coletivamente. E são observados atentamente por ela.

Logo após, os atores-bailarinos treinam as ações das quadrinhas nos seus corpos, individualmente, cada um com o seu personagem. Em alguns momentos do ensaio, uns param para observar os outros que estão agindo com a dramaticidade de seus corpos, há muitos revezamentos nesse sentido. Olhares vasculhadores, ressonâncias corporais... Criações que não se dão isoladas, são feitas de gente que se encontra pra dançar.

“Perdido seja para nós aquele dia em que não se dançou nem uma vez!”
(Nietzsche)

Catia Fernandes de Carvalho
Coreógrafa- UFPel
Colaboradora do Núcleo de Dança-Teatro Tatá


SITUANDO...

Sobre a CHULA...

Dança em desafio, praticada apenas por homens. A chula tem bastante semelhança com o lundu sapateado, encontrado em outros Estados brasileiros. No sul, uma vara de madeira denominada lança e medindo cerca de 4 metros de comprimento é colocada no chão, como dois ou três dançarinos dispostos cada um em suas extremidades. Ao som da gaita gaúcha, executam diferentes sapateados, avançando e recuando sobre as mesmas. Após cada seqüência realizada, o outro dançarino deverá repeti-la e em seguida realizar uma nova seqüência, geralmente mais complicada que a do seu parceiro. Assim, vencerá o dançarino que perder o ritmo, encostar na vara ou não conseguir realizar a seqüência coreográfica desafiada pelo anterior.

A chula antigamente era usada durante os bailes, onde dois peões queriam dançar com uma mesma prenda então desafiavam-se, aquele que fizesse o passo, em sapateio, sem erros teria o direito a dançar com esta prenda pelo resto do baile.
Hoje essa dança é mostrada apenas de forma cultural durante eventos, rodeios, etc, porém não podendo repetir o passo, sapateado, de seu oponente.
disponível em: http://www.pampasonline.com.br/Terrasdosul/dancas.htm


Sobre o BORGUETINHO...

Ele foi o primeiro gaúcho a ganhar um disco de ouro por um trabalho instrumental nativista, ainda nos anos 80. Já se apresentou várias vezes no exterior e até em festivais de jazz. Para não perder seu referencial, Borguetinho sempre se apresenta pilchado. "Procuro mostrar o folclore como uma música mais aberta, mas sempre situando o Rio Grande do SUl e o Brasil".
Fonte: Aplauso - Cultura em Revista - set/98
textos de Sean Hagen


A MAGIA DO GAITEIRO

Se alguém, algum dia, ousou dizer que a tradicionalíssima gaita ponto seria um instrumento limitado, é porque jamais imaginou a existência de Borghetinho no universo musical. Gaúcho de cultura enraizada, Renato Borghetti é bem mais do que um dos maiores instrumentistas do Brasil: ele é compositor, músico e inventor- quase um mágico das notas musicais. De seus primeiros experimentos com a cartola, fez surgir em sua gaita simples uma variedade de notas antes inexistentes. E é por entre notas e acordes, que o artista e sua inseparável criação já trilham um caminho reconhecido internacionalmente; com quase 30 anos de trabalho, ele expõe agora o último dos 23 álbuns: Fandango. Do primeiro álbum, gravado em 1984, até o atual, a diferença não está apenas na experiência adquirida. Ele acredita que sem perder a essência gaúcha que o caracteriza, a renovação e a contemporaneidade aperfeiçoam cada vez mais o trabalho. Nascido em berço urbano, na capital Porto alegre, ele garante ter sempre pertencido ao campo: “Meus pais são ligados à cultura tradicionalista. Sempre que posso, estou aqui no campo.” Disse ontem à tarde, por telefone, enquanto andava por terras da Barra do Ribeiro.

MÚSICA GRAVADA NO AR DOS PAMPAS

É lá mesmo, na campanha, que Borghetti decidiu gravar Fandango. Sem a clausura seca dos estúdios musicais da cidade, pela primeira vez o instrumentista quis ousar em novos ares. Com a ajuda de uma equipe de profissionais, foi montada uma espécie de estúdio rural na sala de casa: uma maneira bem gaúcha de fazer música. “Minha música é rural. Por isso, nada mais justo do que gravar aqui. Inverti a mão; trouxe todos os equipamentos pro meio do campo, que é a essência de tudo”, conta, garantindo ter rendido boas surpresas no resultado: “eu acho que a música sempre tem que surpreender no lado positivo da qualidade. Embora tenha sido gravado aqui, ele não teve menos qualidade do que os gravados na cidade. Pelo contrário, foi muito mais confortável musicalmente do que estar dentro dos estúdios.”
Além da orgânica presente no ambiente campeiro, o álbum, também lançado em DVD, trouxe outra novidade: as filmagens documentais realizadas durante as composições das músicas, produzidas quase totalmente lá na Barra do Ribeiro. “ Essa idéia de captar tudo que acontece é muito romântica, mas é perigoso. Corríamos o risco de não estar em um bom dia e não conseguir render bons arranjos”, pondera, entre risos. Por sorte, não foi o que aconteceu: com a inspiração – e a gaita- a seu lado, Borghettinho construiu mais um grande trabalho, junto aos companheiros Vitor Peixoto (piano), Pedro Figueiredo (sax e flauta) e Daniel Sá (violão).

SUCESSO INTERNACIONAL

A fórmula não só deu certo como foi reconhecida dentro e fora do país. Único álbum independente indicado ao Grammy Latino em 2008, Fandango percorreu a Europa sob a bênção de um selo italiano. Assim que cumprir a agenda regional, eles já estão com a viagem marcada: o quarteto instrumental volta aos países europeus, em junho.
Sobre o segredo dos 30 anos de arte tradicionalista, o gaiteiro já sabe como explicar. Com 46 anos de idade, Borghetti retira da infância suas lembranças da primeira gaita ponto presenteada pelo pai, afirmando: “Desde o início fiz música regional, gaúcha. Acho que a gente tem que experimentar, inovar e se atualizar, mas não pode de maneira alguma perder a referência”, acredita, afirmando ser sua essência mais importante do que sua própria figura artística: “De onde tu vens e de onde vem tua música? Essas são as perguntas mais importantes para se fazer a um artista. Não tenho pretensão que ouçam a minha música e identifiquem que é minha. Só quero que a escutem e digam: “Esta é uma música gaúcha!”

Fonte: Diário Popular, quarta-feira/quinta-feira, 21 e 22 de Abril de 2010.